Essa gente deve saber quem somos e contar que estamos aqui!

Minha edição de Coisas Frágeis, de Neil Gaiman, pela Conrad.

Neil Gaiman vem se mostrando um especialista em mudar meus conceitos. Já devo ter dito aqui no blog que eu raramente gosto de um livro de contos, as histórias passam por mim rápidas demais, sem dar tempo ao tempo, nem o permitem que transforme algo em mim. Mas, Gaiman me surpreendeu mais uma vez, e me fez um apaixonado pela maneira como conduz suas histórias, mesmo que breves. Antes disso, este mesmo britânico me fez navegar nas, até então, desconhecidas águas das Graphic Novels, e gostei do balanço do barco. ‘A Comédia Trágico ou Tragédia Cômica de Mr. Punch’ é sombrio, triste e realmente fantástico. Não tão tão distante de Coisas Frágeis. Quero dizer que as ideias do autor são geniais, apesar de muitas delas partirem de bases muito simples, o autor une a realdade à fantasia de um modo tão único, que beira o mundo dos sonhos.

Uma coisa muito bacana que eu senti lendo Coisas Frágeis, foi a impressão de ter alguém me contando uma história, não foi como se o texto simplesmente estivesse lá para ser lido, mas como se ele estivesse sendo lido para mim. Algo semelhante ao que a Juliana Poggi, do canal JotaPlutz, disse sentir ao ler ‘O mágico de Oz’ de L. Frank Baum.

O livro publicado pela Conrad conta com 205 páginas, divididas em 10 contos repletos de fantasia, criaturas estranhas pessoas despedaçadas, sonhos e corações também. Além disso, a introdução é ótima, o autor fez algo que eu ainda não encontrei em outras obras, mas seria “mega legal” (oi Juliana) se elas tivessem. Ele fala brevemente sobre cada uma das 10 narrativas, sobre o processo de escrita, a origem da ideia ou uma outra curiosidade qualquer.

Por fim, vou deixar aqui um fragmento do conto ‘Como conversar com garotas em festas’, que mereceu um rabisco com caneta marca texto, nas páginas branquinhas do livro novo.

“— Sabíamos que o fim estava próximo, por isso pusemos tudo num poema, para contar ao universo quem éramos, por que estávamos aqui e o que dizíamos, fazíamos, pensávamos, sonhávamos, desejávamos. Embrulhamos nossos sonhos em palavras e moldamos as palavras para que vivessem para sempre, inesquecíveis. Depois, enviamos o poema como um padrão de fluxo, para aguardar no coração de uma estrela, emitindo sua mensagem em pulsos, erupções e chiados por todo o espectro eletromagnético, até que, em mundos a mil sistemas solares dali, o padrão fosse decodificado e lido, e se tornasse um poema de novo.
— E aí o que aconteceu?
Ela me olhou com seus olhos verdes, e foi como se ela estivesse me olhando através de sua máscara de Antígona, mas como se aqueles olhos verde-claros fossem apenas uma parte diferente, mais profunda, da máscara.
— É impossível ouvir um poema sem que ele mude você — observou ela. — Eles o ouviram, e o poema os colonizou, tomou posse deles, e os habitou.
Os ritmos do poema passaram a fazer parte do modo de pensar deles. Suas imagens transformaram para sempre as metáforas deles. Seus versos, seu modo de ver, suas aspirações se tornaram a vida deles. Depois de uma geração, as crianças já nasciam sabendo o poema, e logo, porque essas coisas são assim, já não nasciam mais crianças. Não havia necessidade delas, não mais. Só havia um poema feito carne que andava e proliferava por toda a vastidão do conhecido.”

Leia e sonhe acordado.
Eu queria sonhar a noite com os contos do Neil Gaiman.
Por hoje é isso, até ;)

ps1:.Provavelmente Coisas Frágeis 2 será uma das leituras de 2013.

2 Comentários

Arquivado em Leituras Concluídas

2 Respostas para “Essa gente deve saber quem somos e contar que estamos aqui!

  1. Tão falando muito dele e Joe Hill ultimamente, parece ser fantástico, fantasia na medida certa sem exageros (vampiro, fada e anjo kkk) e ainda tem uma segunda parte?! :O Preciso conhecer URGENTE Gaiman!

    • Um dia desses, li em algum lugar a seguinte frase. “Joe Hill, o novo mestre do terror”. A galera falou tão bem do primeiro livro dele, que me dispus a ler. Massssss, não gostei não, até tem um suspense bacana e tal, mas no geral ‘A Estrada da Noite’ não me agradou. Ainda assim estou curioso para ler ‘O Pacto’, só p/ comparar com o filme, que não tarda muito a estrear.
      Neil Gaiman é outra coisa, o cara sabe contar uma história, escreve lindamente e tem ideias incríveis.
      Vlw por estar sempre por aqui ;)

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